Não havia uma embalagem bem-feita ou faixas que trariam conforto e alegria ao ouvinte, com intuito de arranjar um espaço no mercado musical de então. A capa, o título e os climas das músicas mostravam um relato sombrio da vida na periferia paulistana.Logo, o grupo trazia épicos como "Tô ouvindo alguém me chamar", com mais de 11 minutos de duração e sua narração em primeira pessoa a respeito de um homem que questiona sua vida no mundo do crime.
No entanto a que fisgou quem ainda não tinha parado para escutar os Racionais foi "Diário de um detento". Co-escrita por Josemir Prado, o Jocenir, um ex-detento do Complexo do Carandiru. A faixa conta os dias que antecederam e o próprio momento do massacre dos 111 presos, na época completados cinco anos do ocorrido, sem deixar espaço para o evento entrar em processo de esquecimento. Jocenir depois escreveria um livro sobre a experiência na cadeia.
Foi após "Sobrevivendo no inferno" que definitivamente os Racionais ganharam exposição. Tocaram em rádios que não dedicavam espaço ao rap/hip hop. Fizeram videoclipe e entraram na parada dos mais vistos da MTV (cuja festa de premiação foi protagonizada pelo grupo, em uma "cena" com Carlinhos Brown).
Hoje Mano Brown pode dizer que "não tem mais um discurso", como revelado em sua recente entrevista ao "Roda viva" da TV Cultura, mas com "Sobrevivendo no inferno" ele e o grupo deixaram sua marca como uma das mais cortantes visões do cotidiano brasileiro.
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